sábado, 17 de maio de 2014



O SOL SE ERGUEU PARA MIM



Um dia eu pensei que o amanhã nunca chegaria.
Senti uma agonia.
Tremi por dentro.
Eu ainda queria viver.
Mas estava tão cansada de sofrer.
Chegou-me uma negra noite sem estrelas e luar.
Eu não sabia se a manhã ia chegar.
Eu rezava ao Pai que tudo ouve.
Se for para meu bem que amanheça.
Que o sol se erga pra mim.
Era um sofrimento.
Era bem assim.
Que noite tétrica aquela!
Mas por entre lágrimas eu vi nascer uma manhã tão bela.
O amanhã chegou pintando de novo meu mundo cinzento.
Voltei a crer no mesmo momento.
As feridas se curariam com o tempo.
Porque ele tem este dom de tudo curar, de tudo acertar.
O que importa mesmo nesta vida é acreditar.


sonia delsin



UM ABRAÇO



Hoje eu quero falar do valor de um abraço.
De um abraço de verdade.
De um ninho, de um carinho.
Quero falar da sensação de aconchego.
Da segurança que alguém pode nos passar com um simples olhar, uma palavra, um gesto.
O seu abraço é assim.
Um pouco de tudo que preciso.

O seu abraço me faz alcançar tudo que minha alma se acha no direito de sonhar.
Ele me acalenta.
Mas ele faz mais que isso.
Seu abraço é paraíso...

Vivo mil anos, mais de mil na lembrança de seu abraço...
Porque nas minhas horas de dor ele chega.
E a simples lembrança consegue aliviar o meu sofrer.
Me dá força pra viver.

Você na minha vida significou tanto e mesmo distante é presença.
Você pra mim é a diferença.
É minha crença.

Posso acreditar num mundo melhor.
Porque o carinho existe.
E insiste.

Mesmo de asas quebradas posso voar... porque acredito no milagre do amar.


sonia delsin



O MAIOR AMIGO DO HOMEM




Ontem alguém
morreu.
Agredido pelo
maior amigo do homem.
Precisamos
analisar.
Por que estas feras precisam
criar?
Pra proteger
ou pra matar?
Será que
muitos conceitos
não é necessário revisar?

sonia delsin



ESCREVI A VIDA INTEIRA



Parece que falo besteira.
Mas escrevi a vida inteira.
Foi tão intenso o meu escrever, como foi o meu ler.
Sou assim. Foi este meu viver.
Claro que fiz muitas outras atividades.
Mas ler e escrever foram prioridades.
Chegamos numa idade em que nos colocamos a refletir.
Qual o significado de meu existir?
Eu não arrependo de nenhum passo dado.
Não lamento meu passado.
Adoro meu presente.
E continuo sendo uma pessoa crente.
Acredito em mim mesma, num mundo melhor.
Mesmo quando tudo está difícil ao nosso redor.
Não sou de desanimar.
Adoro rimar.
Ou não rimar.
Mas escrever, contar.
Poetar.
Voar e em palavra tudo transformar.
Escrevi a vida inteira e pretendo continuar.
Inspiração nunca vai me faltar e acredito que numa idade avançada vou chegar.
Lendo e escrevendo vou estar até minha hora de partir chegar.


sonia delsin



QUANDO A VIDA LHE DIZ NÃO


Diga sim quando a vida lhe diz não.
Seja teimoso.
Reaja.
Aconteça em seu mundo.
Não viva se deprimindo.
Procure viver rindo.
O riso espanta a tristeza.
Tudo passa. Vira fumaça.
Por pior que o momento seja logo terá passado.
E outro momento você terá conquistado.
A dor não dura eternamente.
Nesta vida o que vale mesmo é o momento presente.
Vamos fazer com que ele seja o melhor possível.
A verdade é que não existe impossível.
Quando acreditamos firmemente tudo pode ser diferente.
Quando a vida lhe diz não procure dizer sim.
Verá como tudo ficará melhor assim.
Podemos de um parque arruinado construir um belo jardim...


sonia delsin



FRAGILIDADE


Eu me fiz tão forte.
Atravessei desertos.
Montanhas escalei.
Sobre espinhos pisei.
Me feri, me machuquei.
Noutras horas sobre nuvens eu dancei...
Como eu vibrei!
Mas quanto eu me dei!
Quanta dedicação!
Minha vida daria uma canção.
Que nada! Daria um romance de milhares de folhas.
Todos nós somos no fundo somos um grande e romanesco ser.
Um dia cansei de sofrer.
Pensei.
Vou rir. Buscar com o riso apagar a dor.
Não vou sofrer mais por amor.
Que ilusão!
No fundo eu sou só esta frágil criatura que se entrega.
Que não se nega quando o amor bate à porta.
Nestas horas com o sofrer não se importa.
Sou frágil caravela solta no mar.
E aprendi nesta vida a conjugar com mais intensidade o verbo amar...


sonia delsin


POEIRA CÓSMICA

A barba dele alcançava a ponta do externo.
Já nem era mais branca de tão encardida.
Ele tinha uns olhos guardados numa caixinha de rugas como nunca vi igual na vida.
Tão plissada a pele que quase nem se via mais o negro da íris.
Mas existia e eu via.
Algumas verrugas no rosto e braços.
Ele trazia na boca um riso que nascera e morrera ali.
Era mais uma contração.
Mas eu queria acreditar que era um leve sorriso estagnado em sua face incinerada pelo sol ardente.
As cestas de lixo que se distribuíam pela pracinha ele não deixava de observar uma sequer.
O que encontrava comia.
Eu o vi certa vez a comer um restinho de iogurte com colher.
Ele remexia, comia.
Restinhos de refrigerante bebia.
Depois se sentava num banco qualquer.
Arrotava como se tivesse se deliciado com uma bela refeição.
Vi isto em cima deste chão.
E embaixo deste céu de meu Deus.
Que somos? Poeira cósmica?
Somos pó?
Tento encontrar o fio da meada e encontro um nó.
A refletir me coloco.
E me desloco.
Que somos perante o Universo?

O que somos nós?

sonia delsin